O que os setores automotivo e de viagens têm em comum hoje? Se quisermos ser literais, podemos dizer que ambos são responsáveis por mover pessoas e objetos de um ponto ao outro. Mas quando olhamos mais detalhadamente, descobrimos que as semelhanças entre ambos vão muito além disso.
Para começar, as duas áreas tiveram um crescimento nos últimos tempos: a demanda por veículos 0km, por exemplo, subiu 9% em fevereiro de 2023 comparada com o ano anterior.1 Já a categoria de viagens expandiu 10% em volume de pessoas neste ano.2 Apesar disso, elas têm desafios bem parecidos para lidar em um futuro próximo: sustentabilidade, digitalização, diversificação de serviços e a mudança do consumidor — cujos desejos, necessidades e expectativas são diferentes de cinco anos atrás.
E se os obstáculos desses setores são semelhantes, as soluções também são. Por isso, não é exagerado dizer que a tendência é que, no futuro, eles se aproximem ainda mais e, em vez de oferecerem aos clientes apenas carros ou viagens, sejam responsáveis por possibilitar a mobilidade das pessoas — algo que só será possível com a ajuda da tecnologia.
Neste artigo, vamos mostrar quais são os desafios em comum, como cada uma dessas indústrias está posicionada em relação a eles e o que pode ser feito para dar o próximo passo na jornada para se tornarem mais tech.
1. Os consumidores
Os consumidores estão muito mais informados, mais conscientes e cada vez mais exigentes, o que por si só já representa um desafio para qualquer setor. Quando se trata de mobilidade, no entanto, ainda há um ponto de atenção: a mudança do perfil dos clientes.
Depois do isolamento provocado pela pandemia, os jovens da Geração Z estão ansiosos para pegar a estrada: 72% deles pretendem viajar neste ano.3 Ao analisar quem está viajando mais, no entanto, o perfil é o oposto: 48% são pais de crianças de até 12 anos e 64% são das classes AB.4 Essas pessoas estão diminuindo o período em que viajam e aumentando a frequência, por isso as buscas por passeios de até três dias dobraram em relação ao ano passado.5
Esse público é semelhante ao do setor automotivo: 65% das pessoas que vão comprar um carro 0km nos próximos três meses têm alto poder aquisitivo.6 E se essa indústria já foi majoritariamente masculina, não é mais o caso. Cinquenta e um por cento dos compradores são mulheres.7 E mais do que isso: 41% são mães, que estão priorizando o veículo a outros bens.8 Isso nos mostra que há dois fenômenos acontecendo: a elitização do carro 0km e a chegada de novos públicos, que trazem consigo demandas específicas.
2. Sustentabilidade
A necessidade de descarbonização coloca uma pressão importante para acelerar tomadas de decisões nas empresas e para aumentar a oferta de iniciativas mais sustentáveis para os consumidores.
Não por acaso, 52% das pessoas que querem trocar de carro nos próximos três meses afirmaram considerar a compra de um veículo híbrido ou elétrico.9 Além disso, as buscas por híbridos cresceram 36% no último ano.10 O que faz brilhar o olho quando se trata desses modelos é o apelo tecnológico, especialmente entre o público mais jovem e de alto poder aquisitivo.11 Ter um carro híbrido ou elétrico é cool e 98% dos consumidores enxergam seus donos como pessoas bem-sucedidas ou pessoas que eles gostariam de ser.12
Já no setor de viagens, está claro que a regra agora é fazer mais com menos, por isso os passeios sobre rodas ganham adeptos. Entre os novos viajantes que estão chegando, sabemos que a Geração Z é mais preocupada com o meio ambiente. Essa é, portanto, uma oportunidade para criar um diferencial a partir de frotas mais modernas e sustentáveis e de oferecer a neutralização de carbono para quem viaja. Além disso, será mais demandado das empresas comunicar pegadas de carbono menores — os negócios precisam, portanto, se preparar desde já.
3. Digitalização e expansão de serviços
A digitalização tem um papel fundamental tanto para o setor automotivo quanto para o de viagens. Por causa dela, as pessoas estão chegando às concessionárias muito mais decididas: 9 em cada 10 brasileiros, por exemplo, descobrem sobre um novo modelo de veículo por meio do digital.13 No caso do turismo, a tecnologia tem um papel potencializador, especialmente com os programas de recompensa e milhas, que facilitam as viagens e estão ajudando a expandir a frequência e o tamanho da categoria.
A questão que se coloca para as duas categorias, porém, é que essa digitalização tem como consequência a necessidade de expandir os serviços oferecidos. Não é mais possível ser apenas uma empresa aérea ou hoteleira. É preciso ter programas de fidelidade, oferecer serviços de assistência e resolver demandas que possam surgir relacionadas ao lazer. A viagem em si é apenas um dos produtos.
No caso automotivo, o que muda é a experiência do consumidor. É claro que o uso funcional e cotidiano dos carros continua sendo o mais significativo, mas outras vivências ganham espaço com modelos cada vez mais tecnológicos e que oferecem facilidades, como a conexão com outros veículos e com estradas, além de serviços, como assinaturas. A tendência é que os carros se transformem em devices sobre rodas, e a percepção tecnológica será fundamental para construir a consideração das marcas. Por isso é importante se posicionar desde já como uma empresa de tecnologia.
Como ser tech?
Caminhar para uma jornada mais tecnológica implica investir em mudanças significativas dos negócios. A primeira é a priorização dos dados, que serão fundamentais para compreender diferentes perfis, necessidades, criar novos produtos e segmentar as mensagens para os consumidores. As empresas de viagens, por exemplo, devem investir em apps próprios para que o consumidor possa disponibilizar informações primárias que vão facilitar a personalização.
A segunda mudança diz respeito à diversificação da natureza dos negócios. É importante oferecer todas as soluções que o seu cliente precisa em um único lugar. No caso de auto, podem ser assinaturas, serviços indrive ou até soluções tecnológicas como identidade pré-programada do motorista ou direção autônoma.
Em um contexto em que o consumidor é cada vez menos fiel, é mais importante do que nunca construir marcas fortes. A melhor maneira de fazer isso é a partir de mensagens segmentadas que demonstrem a relevância dos produtos e como sua empresa está conectada às necessidades do consumidor, usando a tecnologia a favor do seu negócio.