Cento e quarenta e oito horas são perdidas por ano no trânsito das 20 cidades mais congestionadas do mundo.1 No Brasil, a situação é ainda pior. Em média, os brasileiros que residem nas capitais gastam quase duas horas diárias no trânsito, o equivalente a 21 dias no ano.2 É quase um mês (se contarmos apenas os dias úteis) que perdemos indo de um lugar a outro.
Um problema dessa magnitude se explica pela falta de infraestrutura do país, e traz impactos severos no âmbito social. Para se ter uma ideia, a despesa com transporte perde apenas para o gasto com habitação no orçamento familiar, comprometendo, em média, 18% da renda.3 E, além do estresse econômico, a escassez de mobilidade limita o acesso a oportunidades de emprego e a serviços essenciais, agravando a exclusão social de uma parcela da população.
Para entender os desafios do setor hoje, o Google realizou a pesquisa “Os novos rumos da mobilidade: uma análise da realidade brasileira”. O estudo consultou pessoas de diferentes classes sociais, de todo o país, para mapear os perfis dos usuários em relação aos meios de transporte, quais são as principais demandas nesse setor e o papel da tecnologia para facilitar o acesso a produtos e serviços.
O que o brasileiro entende por mobilidade
No mundo todo, utilizam-se dois conceitos ao discutir mobilidade. Quando se trata de deslocamentos que não impactam o meio ambiente e contribuem para a saúde, como aqueles feitos a pé, em patinetes não motorizados, skate, bicicleta e patins, estamos falando de mobilidade ativa. Já os deslocamentos motorizados, que possuem maiores impactos ambientais, feitos em carros, motos, patinetes motorizados e ônibus, podem ser incluídos na categoria da mobilidade passiva.
A mobilidade ativa pressupõe acessibilidade, calçadas adequadas e segurança do usuário, pontos que não costumam estar presentes na maioria das cidades brasileiras. E a mobilidade passiva tem um custo — financeiro, para aqueles que adquirem um veículo, ou de tempo, para os que precisam usar meios de transporte coletivos.
Essas definições são importantes, mas no dia a dia a população percebe mobilidade a partir de outras premissas, como independência, conforto e custo. Por isso, falar em mobilidade no Brasil é falar em praticidade e flexibilidade. Entre os entrevistados da pesquisa, 64% levam até 30 minutos para fazer deslocamentos em situações de rotina, sendo que as pessoas que não possuem carro gastam um tempo ainda maior.4
O papel da tecnologia hoje e no futuro
É inegável que a tecnologia pode ser uma facilitadora para a mobilidade. A revolução digital no setor, inclusive, tem nome: mobility as a service (mobilidade como serviço), ou MaaS. Essa ideia é mais centrada no usuário e leva em conta um planejamento de ponta a ponta, que inclua reservas, emissões de bilhetes eletrônicos e serviços de pagamento em todos os modos de transporte, sejam eles públicos ou privados.
Ou seja, com uma abordagem que privilegia o serviço em vez do produto, o MaaS considera todos os modais possíveis e, com ajuda da tecnologia, oferece soluções práticas de acordo com as preferências do usuário. Um exemplo que já existe hoje são os carros por assinatura, ideais para aqueles que não querem lidar com a manutenção de um veículo, mas não abrem mão de ter um carro particular.
Para o futuro podemos esperar a criação de super apps, que congreguem todas as nossas necessidades em relação à mobilidade. Já imaginou um único aplicativo que mostrasse opções de rotas mais rápidas e mais baratas em vários meios de transporte, permitisse locação, estacionamento, gerenciamento de pedágios e venda de seguros, tivesse mapeamento de locais perigosos e áreas de risco de enchentes com comunicação real-time e ainda oferecesse pagamento centralizado? Um primeiro passo nessa direção já pode ser observado na Finlândia, onde o aplicativo Whim oferece, por meio de uma assinatura mensal, diversas opções de rotas utilizando transporte público, bicicletas, scooters, aluguel de carros e carros compartilhados.
Os perfis em relação à mobilidade
Um insight interessante que a pesquisa mostrou é que as necessidades dos brasileiros em relação à mobilidade são flexíveis e podem mudar de hora em hora. Isso quer dizer que você pode, por exemplo, ter um carro e no dia do rodízio optar por usar um veículo de aplicativo, ou mesmo alugar uma bicicleta. As possibilidades são muitas, afinal, diferentes contextos pedem diferentes soluções.
Mas mesmo com essa fluidez, é possível dividir os brasileiros em cinco comportamentos relacionados à mobilidade:
Uma indústria em disrupção
Hoje, a mobilidade passa por um momento de disrupção. De um lado, vemos discussões cada vez mais profundas sobre tecnologia, sustentabilidade, conectividade e estilos de vida mais saudáveis. Por outro, há um abismo entre o peso do custo do transporte na renda das famílias, a disponibilidade de infraestrutura nas cidades de todos os tamanhos e o tempo gasto pelas pessoas para se locomover.
O conceito de se deslocar do ponto A ao ponto B tem sido constantemente modificado por avanços tecnológicos cada vez mais presentes no nosso dia a dia. A transformação acontece tanto nos modelos de negócios — como, por exemplo, os carros por assinatura, que podem ser uma alternativa às compras tradicionais —, mas também nos produtos, com a utilização de opções mais sustentáveis, como o etanol e os carros eletrificados. Mas, para que essa mudança possa acontecer, é importante que os consumidores entendam os fundamentos desses avanços tecnológicos e os benefícios que eles podem trazer.
Nesse sentido, sairá na frente quem for capaz de diminuir o gap existente entre as necessidades dos consumidores e a infraestrutura oferecida nas cidades. E para fazer isso, a tecnologia é peça-chave e tem a capacidade de remodelar a experiência das pessoas em busca de locomoção. Ao entender quem são os usuários e o que buscam é possível traçar abordagens mais relevantes e mostrar os caminhos possíveis em uma mobilidade que faça sentido para eles.