Julia Teodoro é embaixadora do Instituto Plano de Menina, uma plataforma que visa ao protagonismo da mulher com atividades de formação de jovens líderes por todo o Brasil. Atua como co-host do AfroPausa, podcast criado para debater negritude no mercado da comunicação, e também já palestrou em um evento em Nova York sobre jovens e internet. Atualmente é Community Manager na FCB Brasil — tudo isso com apenas 19 anos.
O que os profissionais de marketing podem aprender com alguém que nasceu nos anos 2000? Primeiro: sei que não vou mudar o mundo, mas gosto de acordar todos os dias com uma nova ideia. E as ideias da Geração Z, da qual faço parte, têm impulsionado importantes transformações na maneira de pensar, de agir e de consumir cultura na internet.
Na minha primeira experiência profissional — produzindo conteúdos com propósito social na consultoria Plano de Menina —, tive um insight que se transformou em um mantra pessoal: a mobilização da juventude na internet é tão poderosa que podemos realizar tudo o que quisermos. Somado a isso, se encararmos o meio digital como um espaço social como qualquer outro, vemos que o seu potencial para reunir diferentes vozes é imenso.
E à medida que fui entendendo como catalisar melhor essa força, minhas preocupações com segurança na internet assumiram outras perspectivas além das usuais discussões sobre Educação 4.0 ou maior segurança nas transações financeiras.
Vida real ou com filtros?
Por mais que a ideia de criar comunidades tenha sido melhor viabilizada com a digitalização, há o outro lado da história que também deve ser priorizado: o que estamos fazendo para promover espaços de compartilhamento digitais seguros, formados por vozes cada vez mais diversas? E mais: será que os influenciadores que estão sob os holofotes no Brasil se comunicam com grande parte da população que, muitas vezes, não se vê representada?
A realidade "com filtro" é uma prática muito comum na internet. Sobre isso, vamos supor a seguinte situação: há 2 grupos de influenciadores que estão disputando uma corrida — e levarão o prêmio aqueles que conseguirem chamar mais atenção do público. Os dois assumiram praticamente a mesma estratégia: querem mostrar tudo o que acontece no seu dia. A diferença é que enquanto um lado publica uma realidade editada, o outro prefere a realidade escancarada. Então me pergunto: o que nos incomoda mais? Vermos a realidade de uma vida real ou apenas aceitar que uma vida "plastificada" é o ideal?
Para responder a essa questão, vale lembrar que os influenciadores e seu público (os "influenciados") formam um ecossistema complexo. Por isso mesmo, é preciso começar a olhar com mais cuidado para os conteúdos que têm conquistado a atenção de jovens e crianças nas telas do computador e dos celulares. E mais importante do que o tempo que se fica diante da tela é aquilo que se consome nessa tela. Assim, conseguiremos entender quem são os produtores de conteúdo que estão colaborando para uma visão mais próxima da realidade — ou o oposto: quais conteúdos geram gatilhos de ansiedade.
Do discurso à prática
Há outras perguntas que também são pertinentes no contexto atual: se a tendência agora é ação — ou seja, o que antes era discurso precisa agora ser prática —, como gerar conversas verdadeiramente relevantes?
Como profissionais de marketing, devemos nos guiar pelo contexto em nossas práticas no trabalho. Afinal, não é de hoje que o brasileiro vive em meio a uma crise, assim como todos sabemos sobre as desigualdades estruturais da nossa sociedade. Considerando essas percepções, entendo que os influenciadores têm um papel central sobre o que está sendo comunicado — seja ampliando discussões positivas, seja corroborando com polêmicas.
Quem, afinal, pode servir de inspiração?
É por isso que sinto a necessidade de me cercar de boas referências que, assim como eu, buscam construir pontes e caminhos rumo às transformações positivas. São elas:
- Blogueira de Baixa Renda: conheci a Nathaly Dias em um encontro sobre influenciadores na Mutato e foi incrível. Ela é consciente, engraçada e verdadeiramente inspiradora como influencer. Meu quadro favorito no canal dela é o #FaxinaeFala: em meio à uma e outra faxina, ela debate temas complexos como feminismo, independência e consciência de classe.
- Nátaly Neri: uma das YouTubers negras mais conhecidas não poderia estar de fora da minha lista de influencers favoritas. Quando eu tinha 16 anos, a Nátaly esteve na minha escola para comandar uma roda de conversa. Lá, ela contou um pouco sobre seu trabalho voltado para a população negra — sempre trazendo contextos políticos e históricos pautados em nossa realidade. Além disso, ela falava bastante sobre autocuidado, uma prática individual que prioriza a saúde mental de negros e negras em primeiro lugar.
- Plano de Menina: indico também o canal do Instituto, que conta com conteúdos pertinentes para todos, mas, sobretudo, para os mais jovens em busca de inspiração. Com a premissa de que ninguém nasce sabendo e que todo mundo merece se olhar no espelho e gostar do que vê, a proposta é ajudar as pessoas nas tomadas de decisão mais conscientes para si mesmas e para o mundo.
Há muitos outros nomes que podem preencher essa lista e que nos ajudam a ampliar a compreensão — sem filtros — da realidade e que também somam à ideia de uma internet mais segura. Para isso, acredito que seja necessário uma mudança de comportamento de quem faz o meio digital: sejam influencers, sejam anunciantes.
No fim, é a própria realidade que nos guia para a prática e que nos mune de diferentes referências e formas de ler o mundo.