Qual o poder de um ídolo para a popularidade de um esporte — ou melhor, de uma ídola? O YouTube ajuda a responder essa pergunta com a explosão de popularidade de canais e produtores de conteúdo sobre skate depois que o Brasil passou a conhecer Rayssa Leal, a Fadinha, nas Olimpíadas de 2021, em Tóquio.
O próprio canal da Fadinha é um exemplo disso. Com poucos vídeos postados, apenas 43, ela saiu de 17 mil visualizações em junho de 2021, antes do início das Olimpíadas, para 964 mil em julho, um aumento de 5.333% em apenas um mês. Em agosto, depois de Rayssa ganhar a prata aos 13 anos e se tornar a atleta brasileira mais jovem a receber uma medalha olímpica, seu total de views bateu a marca de 1,4 milhão.
O aumento de audiência nos canais de skate ajuda a entender como uma subcultura se tornou popular entre a juventude brasileira.
O sucesso, no entanto, não ficou restrito a Rayssa. E observar o aumento de audiência nos canais brasileiros de skate ajuda a entender como um esporte que décadas atrás foi considerado uma subcultura marginal, hoje se tornou parte da cultura jovem nacional, assim como o futebol.
É claro que esse é um processo longo, que começou com a fama do skatista Bob Burnquist e passou pelo sucesso de bandas ligadas a esse universo, como Charlie Brown Jr. Mas hoje a transformação acontece no YouTube e em canais como o 3Sskaters, que ganhou mais de 258 milhões de novas visualizações entre janeiro de 2021 e julho de 2022. O que esses criadores têm em comum? Eles apostaram em um mix de formatos para aproveitar a exposição e transformar o alcance do skate.
Ande de skate e destrua
3Skaters, o canal citado acima, é o maior sobre o tema no Brasil, com mais de 3,1 milhões de seguidores. Os vídeos, produzidos por Diego Guerra e Rodrigo Panajotti, trazem dicas de manobra, erros, cotidiano dos skatistas e um certo humor nonsense, como na paródia de uma música do Charlie Brown Jr. na qual grande parte das palavras são substituídas por “skate”.
Para se ter uma ideia do tamanho desse sucesso, todos os cem vídeos mais assistidos têm mais de 1 milhão de views. E só entre junho e dezembro de 2021, período logo após as Olimpíadas de Tóquio, o número de visualizações mensais subiu 468%, de 4,1 milhões para 23,3 milhões.
Depois das Olimpíadas, o canal SKTBR teve um aumento de 76% mês a mês, enquanto o LB Skate chegou a 135%.
Outro canal que cresceu de forma significativa desde o ano passado foi o SKTBR — um pioneiro criado em 2012 por Gianlucca Zanardi, Ivan Freitas e Breno Alonso. Na comparação com julho e agosto do ano anterior, o SKTBR teve um aumento de 76% no número de novos seguidores. Hoje, eles são mais de 1 milhão.
O canal traz manobras, dicas, sessões de perguntas e respostas e desafios, com vídeos mais longos se tornando uma constante nos últimos anos. Os destaques são os que têm teor quase educativo, como um guia para montar um skate passo a passo, que já alcançou quase 1,5 milhão de views.
LB Skate é outro canal criado em 2012. Hoje com 628 mil seguidores, o criador Leandro Barsotti também aposta em conteúdo com dicas, mas diversifica os vídeos ao propor séries especiais como Na Sequência, em que executa uma série de manobras e, em seguida, convida o público a repeti-las.
Entre julho e outubro de 2021, o crescimento de views mensais do LB Skate foi de mais de 340%, de 740 mil para 3,3 milhões. O número de novos seguidores mês a mês também subiu numa proporção de 135% de julho (quando foram registrados 5 mil inscritos), até outubro, quando chegaram a 11,8 mil.
Curtinhos, mas da hora
TC Skateboard e Wanderson Silva Skt são dois outros canais que embarcaram no sucesso das Olimpíadas. No entanto, chama atenção o quanto ambos exploram os #Shorts do YouTube. Os cinco vídeos mais vistos do TC Skateboard, por exemplo, são #Shorts, todos com mais de 1 milhão de visualizações.
Postado em outubro de 2021, quando grande parte do Brasil descobria — ou pelo menos se aproximava — da cultura do skate, o vídeo “Coisas ‘proibidas’ no skate” (7,8 milhões de views) dá uma boa ideia do conteúdo produzido por Tiago César, do TC Skateboard, que tem 229 mil inscritos. Por mais que o título sugira um teor agressivo, a fala é quase educativa e em 27 segundos mostra tudo que um iniciante precisa saber para não “passar vergonha”. O canal obteve mais de 147 milhões de visualizações de janeiro de 2021 a julho de 2022.
Os cinco vídeos mais vistos do TC Skateboards são #Shorts, todos com mais de 1 milhão de visualizações.
Wanderson Silva, do Wandersonsilvaskt, por sua vez, só posta conteúdo #Shorts desde agosto de 2021, com 33 milhões de visualizações somadas no formato. Com um foco amplo em conteúdo, que inclui paródias e ASMRs ligados ao mundo do skate, Wanderson também se destaca por ser um criador negro num universo skatista no qual a maior parte dos canais são de jovens brancos de classe média.
Entre janeiro e dezembro de 2021, os views mensais de Wanderson aumentaram inacreditáveis 102.760%, de 7 mil para 7,2 milhões. Uma pequena amostra do poder do skate no Brasil.
Qual é o impacto para sua marca
Muitos dos canais cujas audiências explodiram durante as Olimpíadas já existiam há anos. Se por um lado isso mostra como a exposição é capaz de transformar o alcance de um determinado tipo de conteúdo, por outro comprova o quanto há de potencial não explorado entre criadores que ainda não chegaram lá por falta de oportunidades.
Além disso, a criatividade e a irreverência dos youtubers skatistas podem ser aproveitadas por marcas cujos produtos e serviços atendem esse público. Se na boca do povo skate já virou uma coisa séria, não há motivos para ele ser tabu para o mercado.