Tiffany Warren, executiva-chefe de diversidade do Omnicom Group e fundadora e CEO da AdColor, fala sobre como as empresas criativas e de tecnologia devem pensar em inclusão e, assim, criar mudanças profundas nas organizações e na indústria como um todo.
A primeira vez que vivenciei uma situação de desiguldade foi aos 3 anos de idade, na minha classe da pré-escola. Na escola privada que eu frequentava, ficou claro para mim que algumas pessoas tinham oportunidades, enquanto outras dependiam de trocados. Foi ali que soube que a minha vocação seria defender as pessoas e criar oportunidades para que todas fossem bem-sucedidas. Passaram os anos, e lá estava eu como executiva de contas em uma agência, me adaptando a uma cultura da qual eu não fazia parte. Ali, eu passava mais tempo pensando no que podia (ou não) fazer ou dizer enquanto mulher negra trabalhando com publicidade do que focando em me desenvolver na profissão, como faziam os meus colegas.
Essas duas experiências, na escola e no trabalho, me colocaram em um caminho em defesa da diversidade e da inclusão, algo que faço hoje como executiva-chefe de diversidade do Omnicom Group. A minha paixão por dar voz às perspectivas diversas também me levou a fundar e liderar a AdColor, uma organização que apoia e celebra profissionais com pouca representatividade e promove a inclusão dentro dos setores de mídia, tecnologia e criatividade.
Com o atual movimento por igualdade racial ganhando força, tenho me sentido mais incentivada do que jamais estive em toda a minha carreira. Os avanços parecem ser palpáveis, mas, enquanto indústria, não podemos deixar passar a oportunidade de tornar perene esse compromisso. E, para isso, precisamos desenvolver e fazer a manutenção de uma empatia mais profunda uns pelos outros, desaprender as normas que nos puxam para trás e assumir a responsabilidade pelas ações do passado e pelos nossos compromissos daqui para a frente.
Desenvolvendo uma maior empatia
Pandemia, recessão, brutalidade policial e o ressurgimento do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) foram episódios que ocorreram ao mesmo tempo, causando um impacto desproporcional e letal sobre a população negra nos EUA — e além. Por muito tempo, a desigualdade racial foi um problema deixado para depois: o difícil trabalho de enfrentar essa questão não pode mais esperar.
Embora essa necessidade da igualdade racial tenha surgido por meio da dor e do sofrimento, a quarentena nos afastou de várias distrações e nos forçou a focar no que importa de verdade, como nossa família e amigos. Ver tantas pessoas parecidas comigo perderem suas vidas devido ao racismo e ao tratamento diferenciado me machuca demais. Mas em vez de esconder minhas emoções e reprimir meus sentimentos, me sinto mais próxima do que nunca dos meus colegas justamente por estarmos dividindo mais coisas uns com os outros.
Estamos nos conectando neste momento por meio das nossas questões em comum, seja lidando com as complexidades do trabalho em casa, seja equilibrando os pratos das diversas prioridades em meio a uma crise de saúde. As conversas superficiais estão dando lugar a perguntas sobre como as pessoas estão — perguntas feitas com sinceridade. Quando o meu escritório reabrir, vou me sentir mais próxima dos meus colegas devido a essa nova maneira de se relacionar com as pessoas.
Precisamos continuar pensando em maneiras de desenvolver relações mais profundas e com mais respeito pelas nossas diferenças pessoais, pelas nossas culturas e pelas nossas comunidades. Passar por uma pandemia nos forçou a desenvolver a empatia, e precisamos continuar nesse caminho.
Desaprendendo o sentido de “normal”
A palavra “normal” nunca mais vai ser a mesma. Não podemos mais nos apegar ao “normal”, porque a verdade é que não vamos conseguir voltar ao que passou. Quando pensamos no passado, vemos que esse é um lugar cheio de nostalgia, de conforto e também, para falar a verdade, de dor. No entanto, quando você volta para o presente e entende como o mundo está mudando, o que está à sua espera é mais criatividade, mais inovação, mais empatia, conexões mais íntimas com os colegas e um ambiente de confiança que vai dar origem a trabalhos melhores. Isso é desaprender.
E lembre-se: não basta ser não racista — isso é o normal. Precisamos aprender a ser antirracistas. O não racista é passivo e geralmente vê todo mundo como igual. Mas ser antirracista significa ativamente dar um basta ao comportamento racista sempre que o vir. Por exemplo, intervir quando alguém mandar uma pessoa negra tomar notas em uma reunião, embora essa pessoa seja parte importante da equipe, ou então defendendo alguém que não tenha sido promovido, mesmo sendo do mesmo nível dos demais colegas. Precisamos ir além da noção do “sempre foi assim”, examinando e corrigindo os comportamentos e sistemas que impedem as pessoas negras de alcançar posições de liderança nas nossas empresas.
Assumindo a responsabilidade e seguindo em frente
Embora as empresas estejam prometendo fazer mudanças nos seus cargos de liderança, nos seus processos de contratação e na imagem de suas marcas, parte da frustração e da revolta com elas ocorre por não reconhecerem ou não enfrentarem os padrões e problemas sistêmicos que dão origem a uma força de trabalho com pouca ou nenhuma diversidade.
Para mudar o sistema, nós, enquanto indústria, precisamos assumir as nossas responsabilidades. A responsabilidade é uma parte fundamental do processo de seguir em frente. Agora vemos muitas conversas acontecendo, mas será que estamos implementando as estruturas e programas adequados para consertar os problemas?
Na Omnicom, expandimos o papel do executivo-chefe de diversidade para ter mais pessoas envolvidas em toda a organização. Temos “guardiões-chefe da diversidade” em toda a nossa rede de empresas por meio da Omnicom People Engagement Network (OPEN), para que sejamos responsabilizados pelas nossas metas de criar mais ambientes de trabalho inclusivos, de aprimorar os nossos relacionamentos com vários fornecedores e de incentivar o networking e as oportunidades de negócio.
Recentemente começamos uma série de conversas amplas em toda a organização, para discutir assuntos atuais e compartilhar experiências. A nossa primeira conversa focou na importância do Juneteenth (feriado celebrado em 19 de junho em vários estados americanos e pelas comunidades negras dos EUA, marcando o fim da escravidão no Texas, em 1865) e em como criar uma força de trabalho mais igualitária e inclusiva.
As pessoas costumam me perguntar: “Como posso ser um aliado melhor?”, ou “o que posso fazer para tornar a nossa empresa mais inclusiva?”. Nessas horas, penso na energia que as pessoas dedicam para reconhecer as disparidades de gênero e o trabalho que vem sendo feito para defender salários e oportunidades iguais para as mulheres. A energia, o esforço e os programas que foram necessários para ver mudanças reais na paridade de gênero são os mesmos que precisamos ter para que as pessoas negras, indígenas e de todas as cores possam avançar nos locais de trabalho.
Um dos meus conselhos preferidos é: “Quanto antes você lidar com o presente, mais rápido você poderá se afastar dos erros do passado”. Como indústria, não podemos deixar escapar o momento e a oportunidade de trazer a mudança e a inclusão nos ambientes de trabalho. Chegou a hora de ter iniciativa e de fazer as nossas empresas refletirem os consumidores a que elas servem, e assim, daqui a um ano, talvez, possamos olhar para trás com orgulho.