No dia 8 de março, o mundo celebra o Dia Internacional da Mulher. Aproveitamos a ocasião para fazer a pergunta: o que estamos fazendo de fato para equilibrar a balança da igualdade de gênero?
Quando falamos sobre crescimento na carreira, vemos que as mulheres ainda enfrentam uma batalha mais difícil se comparada à dos homens. Estudos mostram que menos de ⅓ dos cargos seniores ao redor do mundo são ocupados por mulheres.¹ No Brasil, por exemplo, apenas 16% das mulheres ocupam cargos de CEO e diretorias executivas.² E mais: segundo o Fórum Econômico Mundial, as mulheres recebem apenas 63% do salário dos homens3.
E mesmo quando o assunto é mais subjetivo, como o nível de confiança de homens e mulheres4 que se candidatam a uma vaga ou pedem uma promoção, a disparidade continua visível: elas sentem que devem preencher 100% dos requisitos para disputar a vaga em uma nova função. Enquanto para os homens, atender 60% das qualificações já é suficiente para se candidatar. Outro fato que também chama a atenção é que pesquisas recentes mostram que mulheres muito confiantes podem sofrer um revés por isso.
Olhando para esses indicativos, tomei a iniciativa de conversar com as líderes do Google para saber mais sobre suas histórias, desafios e conselhos — sobretudo para as mulheres que desejam ir além.
Continue aprendendo em qualquer momento da sua vida
Sapna Chadha sempre soube que queria trabalhar em uma empresa global. Não à toa, ela entende sua mudança dos Estados Unidos para a Ásia como um dos momentos mais emblemáticos da sua carreira. Ainda assim, ela conta que a virada não foi proposital: "Não foi algo que planejei estrategicamente. Na verdade, me mudei porque meu marido precisava". Por isso, ao olhar pelo retrovisor, Chadna se questiona: "Como mulheres, conseguimos ser tão claras sobre as nossas aspirações quanto deveríamos ser?".
Baseada em sua própria experiência, a Diretora de Marketing do Google India e Southeast Asia aconselha: "Tome as rédeas da sua carreira, e não apenas espere o próximo passo. Se você não tem clareza em relação às oportunidades que busca, vai acabar perdendo tempo". E ela acrescenta: “Depois da minha mudança, percebi que fazer uma seleta lista com as opções do emprego dos meus sonhos seria um diferencial durante o processo [em busca de oportunidades]. E o mais importante: deveria ter me candidatado a vagas para as quais não atendia todos os requisitos”.
De olho no futuro, Chadha lembra que “para ter sucesso na área de marketing nos próximos 10 anos, é preciso saber que tudo está se tornando mais técnico”. Marketing tradicional para marcas é importante, mas entender de performance, crescimento e marketing digital são habilidades vitais. Por isso mesmo, a executiva diz: “Muitas mulheres acham que não são boas em áreas técnicas. Mas se estivermos sempre dispostas a aprender e a mergulhar na ciência do marketing, isso poderá levar você a usar todo o seu potencial”.
Escolha as pessoas certas para trabalhar e o melhor ambiente para estar inserido
Kristell Rivaille diz que foi um banheiro que a ajudou no seu primeiro trabalho na área de marketing. O crédito, conta ela, se deve mais especificamente a uma placa em cima do vaso sanitário. Durante sua entrevista na empresa, em uma visita ao toalete, ela notou o clássico pedido para que as pessoas não jogassem o papel toalha na privada. E na placa havia também uma explicação: ao contrário do papel higiênico, o papel toalha não se dissolve quando molhado.
Para Rivaille, ali havia um sinal. “Eu não gosto quando as pessoas me dizem o que fazer”, ela conta. “Prefiro que as pessoas me expliquem por que precisamos fazer algo.” O trabalho em questão não era a sua primeira escolha, mas ela entendeu, graças à placa, que existia um sinal de que a empresa respeitava a inteligência de seus funcionários e incentivava uma comunicação aberta.
“Ter uma abordagem racional ao escolher uma mudança de carreira é importante”, defende. “Mas prestar atenção ao aspecto emocional envolvido é fundamental para obter melhores resultados. Perceba se você está fazendo o que ama, com paixão, energia e criatividade em seu trabalho.” E ela também recomenda olhar para além da marca: “Saiba escolher as pessoas certas para trabalhar e o melhor ambiente para estar inserido”.
Outro ponto importante para Rivaille está na autoconsciência e na sua inteligência emocional. Ao entender quem você é e como se relaciona, você “aprende também a ser flexível a cada nova situação e em relação às pessoas com quem convive. Ser assertivo pode ser bastante necessário em uma situação, já em outras é importante saber ser um bom ouvinte”.
O sucesso tem muitas formas, e você precisa lutar por todas elas
“Historicamente, as mulheres são desestimuladas a celebrar suas realizações e receber o reconhecimento que merecem". É a lição de Susana Ayarza ao falar que as mulheres devem expressar claramente o que desejam — e merecem — no ambiente de trabalho. A Diretora de Marketing do Google Brasil diz que muitas vezes as mulheres não se sentem à vontade para comunicar as contribuições que fizeram para o trabalho, esperando que as pessoas ao seu redor percebam isso sozinhas, o que limita ainda mais suas possibilidades na carreira.
Ela aponta que também é muito importante encontrar novas oportunidades para aprender e sair da sua própria zona de conforto. Isto é verdadeiro crescimento, não só o nível hierárquico. Susana traz um exemplo de sua própria carreira. Ela que é chilena aceitou o desafio de liderar um time global — com a maior parte da equipe alocada em Nova York —, mesmo morando no Brasil: "Foi uma experiência totalmente nova, na qual tive a chance de aprender com culturas diferentes. Sou outra profissional porque tive essa oportunidade."
Susana lembra que é fundamental encontrar uma forma de trazer seus valores para o trabalho: "No futuro, quando você olhar para sua carreira, não vai mais se lembrar dos números, das porcentagens e das metas. Na verdade, você vai se lembrar do impacto que causou nas pessoas ao seu redor, na sociedade. E elas também vão lembrar de você por isso."
Faça o seu melhor, mesmo que não saia perfeito
Michelle Bryan-Low nem sempre esteve engajada com a sua carreira. Ela se distanciou do seu trabalho por 7 anos. Nesse período, mudou-se para França, onde administrou (acredite) um pequeno negócio de caça ao javali. "Com essa decisão, ganhei mais experiência de vida do que os anos somados na minha jornada profissional." E depois da aventura, Bryan-Low sentiu um frio na barriga ao decidir deixar a zona rural francesa para retomar a carreira corporativa. "Perdi muito da confiança que tinha em minhas habilidades e no meu potencial."
Sua história seguiu curiosa: ainda que tenha voltado para uma empresa em um cargo que lhe era familiar, no qual poderia ficar até retomar sua confiança, ela reconheceu a dificuldade das mulheres em se recolocar no mercado, seja depois da licença maternidade, seja após um período sabático, ou até mesmo ao equilibrar a vida doméstica com os desafios da carreira. "Você sempre tem a sensação de que não está inteira. Sente, ao mesmo tempo, culpa por estar longe dos filhos e culpa por amar o seu trabalho."
Outro ponto importante para a diretora é perceber que "não existe supermulher”. Por isso mesmo, ela aconselha as mulheres do seu próprio time a serem gentis consigo mesmas. "Estabelecemos limites tão irreais para nós mesmas, tudo bem se as coisas não estão perfeitas. Não tente ser tudo. Faça o seu melhor, mesmo que não saia perfeito."
Seja responsável por suas próprias escolhas e decisões
No início da carreira de líder, Kazuha Okuda tinha um emprego no qual se sentia diminuída. "Mesmo sendo capaz de liderar, sempre ocupava funções de apoio." Quanto mais o tempo passava, mais ela se conformava com essa situação. E foi aí que acendeu o primeiro sinal de alerta: "Uma vez habituada, você já não enxerga o problema. Você se contenta com a caixa na qual te colocaram".
Em outro momento, ela se deu conta de que seus colegas homens estavam participando de projetos muito mais relevantes. "Entrei em choque. O que eu estava fazendo? Resolvi sair dessa equipe, começar de novo em um papel de liderança e definir outros tipos de expectativas. Me faltava uma mudança proativa na dinâmica do meu próprio entorno para transformar minha carreira."
Hoje, os passos de Okuda são guiados por sua missão pessoal: fazer do mundo um lugar melhor. "Ter uma meta ambiciosa como guia ajuda a me manter nos trilhos da minha carreira. Sou seletiva em relação aos projetos que assino e com quem trabalho." Ela também aconselha: "Não há problema em ser exigente, porque você precisa navegar por sua carreira e ser responsável por suas escolhas e decisões".