Outro dia estava ouvindo o podcast Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes quando a Amélia, minha filha mais nova, fez uma pergunta que pega qualquer mãe desprevenida: “Mãe, o que é ser rebelde?”.
Comecei a me questionar sobre qual seria uma explicação possível para uma criança. Rebeldes seriam aqueles que desobedecem regras? E se ela achasse que rebeldes são aqueles que desobedecem seus pais?
Mulheres rebeldes seriam iguais a homens rebeldes? Muitas de nós somos levadas a pensar que um homem rebelde é corajoso, quebra padrões, lidera batalhas. Mas quando o adjetivo é aplicado a nós, parece que as pessoas estão falando de uma mulher "difícil", indisciplinada, turrona.
Questões como essa nos mostram como continua sendo importante falar em igualdade de condições entre mulheres e homens, especialmente no mercado de trabalho, como apontamos em 2018. No ano passado, falei do impacto profundo que a dupla – às vezes tripla – jornada feminina acaba tendo nesse contexto. Mas para não dizer que não avançamos, fato é que em seis décadas, somente no Brasil, a nossa participação profissional formal mais que triplicou.1
E ouvindo um podcast com a minha filha de 8 anos, cujo conteúdo é pensado para esse público, acabo percebendo o quanto a próxima geração de mulheres irá definir a nossa relação com a tecnologia. Ela precisará ser usada a nosso favor para não ficarmos em desvantagem e conseguirmos acelerar as transformações que queremos.
No horizonte, vemos a era da automação e a inteligência artificial (IA) como as grandes apostas da década. Apesar das diferentes especulações e temores, cada vez mais entendemos que essas tecnologias oferecem novas oportunidades de trabalho e formatos de profissões totalmente inovadoras. Mas para isso precisaremos nos atualizar e investir ainda mais na nossa capacitação.
Nesse cenário, há um fator-chave para o sucesso feminino: autoconfiança. Toda mulher deveria ser ensinada a acreditar em si mesma. Graças à tecnologia, é muito mais fácil hoje para uma jovem profissional se conectar com pessoas que tenham mais experiência para compartilhar: mentoras, incentivadoras, bons exemplos. Aliás, celebrar os bons exemplos é a melhor forma de estimular o surgimento de outros novos exemplos. E existem brasileiras que estão sabendo usar a tecnologia para transformar não só a sua própria realidade como a de milhares de outras pessoas.
Rebeldes com causa
Camila Achutti por muito tempo foi a única garota da sua turma no curso de Ciência da Computação na USP. Ela se convenceu de que iria incentivar mais mulheres a entrar no universo da tecnologia. Tornou-se fundadora de duas startups, a MasterTech e a Ponte21, focadas em inovação e times diversos.
— Camila Achutti em “Queremos mais mulheres na tecnologia”
Nina Silva, que acumula mais de 17 anos de experiência na área da TI, tem quebrado paradigmas. Dentre os muitos desafios, ela já foi até questionada nos eventos internacionais de que participou "se estava à procura de um marido". Foi reconhecida pela ONU como uma das 100 pessoas afrodescendentes com menos de 40 anos mais influentes do mundo.2
A população negra representa quase 60% dos brasileiros e tem entre suas pautas mais urgentes a inserção no mercado de trabalho. Atenta a isso, Nina ajudou a fundar o Movimento Black Money, uma plataforma que permite a conexão entre empreendedores e consumidores negros, fazendo a renda circular mais e melhor em diferentes comunidades pelo país.
— Nina Silva sobre o Movimento Black Money
Dani Junco trabalhava no mercado de TI quando engravidou e sentiu na pele a estatística: a cada 10 profissionais que se tornam mães, 4 não retornam ao mercado de trabalho após o nascimento dos seus filhos.3
Durante sua gravidez, ela fundou a B2 Mamy, uma aceleradora focada em mães empreendedoras. Com a meta de tornar cada vez mais mulheres independentes economicamente, desde 2016 a empresa digital já acelerou 170 startups.4
— Dani Junco sobre a B2Mamy
Todos podemos sair ganhando. Como?
Para que mais brasileiras se antecipem ao cenário que se desenha, cada vez mais tecnológico, vale lembrar a importância de investir na capacitação, sem deixar de lado a trinca: diversidade, inclusão e representatividade.
Nós aqui do Google nos mantemos atentos a essas lições e queremos que a tecnologia produza confiança e oportunidades para todos, de forma que mulheres e homens possam crescer. Assim, as próximas gerações poderão usufruir de um mundo onde — esperamos — seremos socialmente iguais, respeitando as diferenças e trajetórias individuais.
E é por isso que costumo dizer para as minhas filhas: sejam o que vocês quiserem. Se isso significar ser rebelde, seja. Não apenas para contestar uma ordem, mas para mudar. Mudar o rumo de uma decisão, mudar a própria realidade, mudar todo um ecossistema para melhor. Cada causa pede uma dose de rebeldia para ser alcançada. E continuar com as nossas conquistas é a melhor resposta que podemos dar às nossas filhas.