O caminho mais rápido para ganhar um olhar atravessado de um jovem da geração Z é tentar defini-lo de maneira reducionista. Na verdade, a construção masculina da frase anterior por si só já seria motivo para isso: 64% dos nascidos entre 1995 e 2010 evitam ao máximo rótulos e definições, sejam de gênero, sexualidade ou etnia.1
Esse é um bom indicador de uma tendência maior observada a partir da análise de buscas feitas no Google com o uso do termo “para” como qualificador. No lugar de apenas um adjetivo, essas pesquisas revelam que as pessoas têm mudado para aceitar e abraçar identidades que sempre foram complexas.
“Para” é uma palavra muito poderosa em uma busca no Google.
É como se não fizesse mais sentido ter formulários de autoidentificação de demografia em que é possível marcar apenas uma opção para gênero e raça, por exemplo. No lugar disso, há uma demanda pela capacidade de escolher múltiplas opções ou apontar que nenhuma delas corresponde à sua identidade.
Tudo isso é só a ponta da transformação que acabou com caixinhas simplistas para definir as pessoas. E fechar os olhos para essa transformação não é mais um caminho viável.
“Para” é a palavra mais poderosa quando consideramos buscas no Google. Então analisamos como ela é utilizada em mais de 20 países e 17 idiomas. Aqui está o resultado.
Você está lendo o primeiro de quatro capítulos sobre O poder do “para”. Acesse os outros capítulos: Artigo 2: Meu cabelo é único; Artigo 3: Diferença não é imperfeição; Artigo 4: Maduro para minha idade.
Medo de errar vs tentativas de acerto
No dia 20 de janeiro, os participantes da edição de 2022 do Big Brother Brasil almoçavam juntos à mesa quando Eslovênia usou o pronome masculino “ele” para se referir à cantora Linn da Quebrada. Linn, que se identifica como travesti e já havia deixado claro que prefere ser tratada no feminino, corrigiu a colega de imediato.
Sessenta e oito minutos depois o caso estava nos trending topics do Twitter no Brasil como um episódio de transfobia.
Entre as grandes marcas, é notável o medo de se ver na mesma situação que Eslovênia: 61% dos anunciantes temem a reação pública ao incluir pessoas LGBTQIAAP+ na publicidade.2 Esse receio, no entanto, é o verdadeiro erro. Até porque, no Brasil, 87% da população se identifica com algum segmento que, grosso modo, pode ser chamado de minoria.3 Isso vale para a população LGBTQIAAP+, assim como para mulheres, negros, indígenas, pessoas com deficiência (PCDs) e idosos, entre outros.
Ainda que seja necessário pesquisar e prestar atenção na forma adequada de se comunicar com um público tão amplo e distinto entre si, é nítido o quanto a população em geral está aberta para entender e respeitar essas diferenças. Isso fica claro na forma como pesquisas sobre esse universo mudaram ao longo dos últimos anos, com termos ofensivos e preconceituosos saindo de cena em favor das palavras adequadas.
Pode parecer desafiador acertar a forma correta de se comunicar dentro desse contexto, mas, ao buscar mais informações, o público leigo – e também as grandes marcas – é capaz de fazer isso. E, nesse processo, tornam essa complexidade identitária mais acessível. Não à toa, pesquisas feitas no Google com uso de pronomes neutros aumentaram 65% em 2021.4
São muitas as formas de conversar com essa comunidade, tão diversas e complexas quanto as diferentes identidades compreendidas por ela. No entanto, aqui ainda falamos apenas de gênero e sexualidade, mas as características de identidade vão muito além desse universo.
Como sua marca pode atuar?
Somada a um crescente sentimento de orgulho étnico, há uma mudança na forma como as pessoas compreendem sua etnia: ela não depende apenas da cor da pele, mas também da cultura, do local de nascença e onde cresceu, e mesmo de laços familiares distintos.
Uma alternativa simples para compreender grupos de consumidores tão diversos é aproveitar O poder do “para” somado à capacidade do Google Trends de monitorar as preocupações e tendências de grupos específicos da população.
Vale notar, no entanto, que mesmo quando querem se referir a um mesmo grupo, pessoas diferentes usam termos diferentes. A língua é viva. As identidades, também. E na medida que o entendimento sobre linguagem e pertencimento evoluem, a pesquisa do Google é sempre um espaço seguro para todos que precisam aprender e evoluir em conjunto.
Este projeto contou com o auxílio de Taynah Calixto.