De olho nos processos que foram acelerados desde o início do isolamento social, reunimos dados, tendências e pontos de vista de especialistas para apontar caminhos possíveis no futuro em 6 áreas distintas: consumo, educação online, trabalho, entretenimento, logística, segurança na internet e família. Com ajuda desses números e insights, sua marca ou negócio pode começar a fazer a diferença desde já.
É incontestável que a maior perda gerada pela COVID-19 é a morte de pessoas mundo afora. E na esteira desse momento tão difícil, há também a crise econômica. Nesse cenário, milhões de pessoas, no Brasil e no mundo, viram suas rotinas mudar completamente: muita gente passou a trabalhar de casa, enquanto outras precisaram se adaptar a reajustes salariais, e ainda houve inúmeros casos de postos de trabalho perdidos durante a pandemia.
Ainda assim, passada a crise da COVID-19, o que podemos esperar em relação aos empregos e às relações de trabalho no Brasil? Como as mudanças de hoje vão impactar o mercado de trabalho de amanhã? Em mais um artigo desta série, reunimos dados e a opinião de especialistas na tentativa de entender os desafios e pensar em soluções para o mercado de trabalho do país.
Brasil: um país de informais
A história mostra que o brasileiro está, de certa forma, acostumado a conviver com a crise. No último século, hiperinflação, desvalorizações da moeda, confiscos, crises fiscais e oscilações no Produto Interno Bruto (PIB) criaram um ambiente de instabilidade ao qual o brasileiro parece ter se habituado, mesmo que de maneira inconsciente.
A pandemia do coronavírus, no entanto, surge como algo inédito na nossa geração, causando impacto imediato e visível na vida da população. A pisada brusca no freio da economia causada pela quarentena e pelo fechamento do comércio fez com que 7,8 milhões de brasileiros ficassem desempregados entre março e maio. Pela primeira vez na história do país, mais da metade da população em idade ativa – quase 88 milhões de pessoas – ficou sem ocupação.1
Mas a despeito da crise, a informalidade já vinha crescendo no país antes mesmo da quarentena. Em agosto de 2019, o número de informais chegou à marca de 41,4% dos profissionais do país, um recorde2. E em fevereiro deste ano, a taxa de informalidade registrada foi de 40,6%, o que equivale a 38 milhões de trabalhadores.3 Além disso, o primeiro semestre de 2020 viu 1,19 milhão de vagas de trabalho com carteira assinada serem fechadas — pior resultado desde o início dos levantamentos, em 1992.4
Em meio a este cenário complexo, com o ecossistema econômico mais vulnerável, em que a seguridade social também está cada vez mais restrita, existe um desejo da população por um espírito de maior solidariedade e apoio no país. Uma pesquisa do Google mostra que, para 31% dos brasileiros conectados, cuidar dos outros e da sociedade vai ser uma das mudanças duradouras no pós-pandemia.5 E com a tendência de flexibilização no mercado de trabalho, deverá haver também um debate sério sobre a necessidade de um apoio mínimo para os informais — um diálogo que pode nascer da própria sociedade.
Home office: solução ou problema?
Em meio à pandemia, uma parcela da população ativa brasileira tem enfrentado outro desafio: a necessidade de trabalhar de casa. Pouco mais de 20% dos trabalhadores no país (o que equivale a 93,6 milhões de pessoas)6, que estão em uma situação econômica mais segura, aderiram ao home office. A medida permite que esses trabalhadores cuidem da sua saúde e da dos demais, mas também levanta questões sobre como manter a produtividade, as entregas em dia e os trabalhos em equipe mesmo a distância.
Os números relativizam esses prós e contras e revelam que muita gente, desde já, enxerga o home office como parte da nova rotina e como um hábito que veio para ficar: 7 em cada 10 entrevistados em uma pesquisa da USP dizem querer continuar trabalhando de casa quando a pandemia passar.7 E uma em cada 5 pessoas entrevistadas pelo Google acredita que o hábito de trabalhar e estudar de casa vai ser incorporado nas nossas vidas daqui por diante — um comportamento, inclusive, que vem na esteira do crescimento na oferta de conteúdo relacionado a home office: no Brasil, a busca por vídeos no YouTube com esse termo no título cresceu 173% neste ano.8
Diante desses dados, parece óbvio que, em um futuro próximo, o home office deva se tornar cada vez mais parte da rotina de empresas e empregados. No entanto, assim como o aumento da informalidade, esse cenário também exige um debate sobre as suas consequências. As empresas vão precisar fazer uma estruturação formal do trabalho a distância, como forma de trazer mais segurança aos seus funcionários e colaboradores — e para si mesmas. Assim como as pessoas também precisarão aprender a conciliar trabalho, convivência em família e lazer sob o mesmo teto, o que pode trazer impactos negativos à saúde mental e ao bem-estar.
O digital como apoio à força de trabalho
Em um contexto em que a informalidade é o preço que muitos brasileiros pagam pela instabilidade econômica, assim como os benefícios do home office são limitados àqueles que têm o privilégio de trabalhar a distância, cabe aos negócios encararem esses desafios e encontrar soluções.Tudo em nome de uma sociedade mais sustentável.
E para isso, as ferramentas digitais têm um papel fundamental. Elas possibilitam o trabalho a distância com cada vez mais qualidade e precisão, e também aproximam as pessoas, criando novas possibilidades. Para se ter uma ideia, entre 15 e 20 milhões de brasileiros informais fizeram sua primeira transação digital justamente durante a pandemia, a partir do acesso ao auxílio federal aos atingidos pelo coronavírus.9 O digital é um dos meios principais pelos quais a sociedade pode debater e encontrar maneiras de tornar o futuro da sua força de trabalho mais inclusivo.
O que, afinal, deve ficar?
Por mais que essa pergunta não tenha uma resposta 100% objetiva, os dados e as tendências podem ajudar marcas e empresas a olhar o momento atual com mais clareza na hora de fazer a diferença. E embora ainda seja cedo para dimensionar o que será permanente, as mudanças já estão acontecendo e apontam alguns caminhos possíveis para a vida no pós-pandemia.