Já foi o tempo em que o futebol ficava apenas entre as quatro linhas do campo. Hoje, a bola rola antes, durante e depois do apito do juiz. E, nesse jogo, o YouTube tem um papel importante, já que 75% dos brasileiros afirmam que a plataforma lhes permite viver a paixão pelo esporte além dos 90 minutos do jogo.1
Se na TV a exibição das partidas de futebol segue o mesmo padrão há décadas — o jogo passando, comentaristas famosos dando suas opiniões e especialistas analisando os lances mais polêmicos —, no YouTube a história é mais completa. A plataforma tem um ecossistema de conteúdos, que inclui replays, melhores momentos, resumos rápidos e reações. Há ainda treinadores que dão palestras sobre como preparar os atletas, as emoções dos jogadores dentro e fora do campo, peladas com torcedores e, claro, comentaristas que analisam cada lance minuciosamente (ou não seria futebol).
Além disso, o esporte está conquistando novas vozes, incluindo as femininas. A liberdade para se expressar, sem tantas regras ou rigidez, tornou o conteúdo mais solto e, consequentemente, mais criativo e viral. Tanto que o tempo que as pessoas gastam na plataforma assistindo a vídeos sobre o tema só cresce: durante a Copa América, por exemplo, foi registrado um total de 73 milhões de horas de visualização de conteúdos.2
No Google e no YouTube, o futebol é o esporte mais pesquisado globalmente, acima de basquete, beisebol, ginástica e natação.3 E a evolução do streaming reconfigurou para sempre os pontos de contato e as estratégias para alcançar os torcedores, seja para o mundial, que acontece em novembro, seja para entretenimento esportivo em geral.
Sair dos lugares-comuns é o que realmente está em jogo agora, já que o futebol, como produto cultural, continua vivo e evoluindo. Neste artigo mostramos quatro grandes "vibes" que atualizam nossa compreensão sobre o esporte. Elas integram o relatório YouTube Vibes: para além da partida, que foi feito em parceria com a float e ouviu usuários do YouTube, plataforma que está no epicentro dessas transformações, para saber como eles entendem o futebol nos dias de hoje.
Vibe 1: Futebologia
Celebrando a democratização do conteúdo sobre futebol
Futebol jogado, futebol falado. A democratização dos conteúdos sobre o esporte, que sempre esteve nas ruas, foi amplificada na internet. Essa "futebologia" se manifesta na difusão de vozes não institucionais que também têm propriedade sobre o assunto. Tudo feito de fã para fã.
É no YouTube que essa polifonia acontece, onde há liberdade e criatividade para emitir opiniões. E o sucesso de vários canais se dá por causa da espontaneidade e do humor, coisa que as narrativas televisivas nem sempre trazem. Seja com descrições detalhadas do jogo, seja com especulações e análises aprofundadas, seja com histórias sobre datas, biografias e derrotas, o futebol é uma cultura que vive de um saber popular.
São muitos os canais que exploram essa característica, como o Modo Carreira Soto, que repercute notícias sobre futebol, traz recortes das carreiras de jogadores e ex-jogadores, e tem mais de 2,2 milhões de inscritos. Para quem se interessa pela parte histórica e política que permeia o esporte, o canal Futebol Coruja, comandado pelo historiador Iugh Mattar, fala sobre temas diversos, como as origens dos clubes e dos torneios, além de contar “causos” interessantes do futebol.
Vibe 2: Terapia de gol
Chutando os problemas para escanteio
Para além do entretenimento, o futebol tem um papel restaurador na cultura e no bem-estar dos torcedores. Tanto que, para muitos, é como uma terapia. O futebol alivia, permite a socialização, exige concentração, além de elevar os níveis de euforia e fortalecer a sensação de pertencimento com a torcida. Não por acaso, 73% dos entrevistados afirmam que assistir a partidas de futebol no YouTube ajuda a lidar com a ansiedade.4
Quantas vezes, no seu o dia a dia, você se permite viver uma alegria intensa como a comemoração de um gol? O futebol é único também por isso: 76% dos torcedores afirmam que o grito de gol é uma das melhores sensações da vida.5 O YouTube amplifica esse poder catártico do esporte. Fãs entram em transmissões ao vivo, registram reações e postam declarações de amor, expressões de luto, palavras de admiração e emojis.
O humor é uma das principais ferramentas dessa grande terapia coletiva. Que o diga o jornalista Casimiro Miguel, rei absoluto dos reacts na plataforma, que tem mais de 3 milhões de seguidores no canal Cortes do Casimito. Os vídeos do streamer, que é vascaíno roxo, vão muito além do futebol, mas foi nessa seara que ele se tornou conhecido, com comentários lance a lance e opiniões sinceras e divertidas.
Na mesma linha estão canais que comentam — com desafios, brincadeiras e conteúdo cômico — as notícias relacionadas a futebol, como o Que Jogada!, de Felps e Phill, e o Futirinhas, capitaneado pela dupla Dudu e Pépe, que atingiu 2 milhões de inscritos no YouTube. E para se emocionar, tem o canal O Canto das Torcidas, dedicado, como já adianta o nome, ao repertório musical das torcidas de times do Brasil e do mundo. Bonito de se ver e, principalmente, de se ouvir.
Vibe 3: Diversidade em campo
Uma revolução em campo, das chuteiras às grandes audiências
Futebol não é coisa de mulher. Por mais ofensiva que seja a frase, ela foi repetida por anos e reflete o machismo estrutural que reverbera também no esporte. Felizmente, a batalha por equidade dentro e fora dos campos têm se refletido em números, e os investimentos no universo do futebol feminino vêm aumentando proporcionalmente ao interesse dos torcedores.
Um dos últimos bastiões do monopólio masculino na indústria, o estádio de futebol, também tem aberto arquibancadas e gramado para mulheres jogarem bonito. Um exemplo disso foram os mais de 91 mil torcedores que se reuniram para assistir às semifinais de Barcelona vs Real Madrid na Liga dos Campeões Feminina da UEFA neste ano.6
No Brasil, o Paulistão Feminino está chamando a atenção das marcas, que entenderam o interesse da audiência pelas mulheres em campo. No YouTube, somente em 2021, houve um aumento de 300% nas pesquisas pelo campeonato.7
Os espaços que o YouTube disponibiliza para o futebol feminino também ajudam a dar amplitude ao esporte. Há canais sobre futebol feito por mulheres, como o Passa a Bola. Comandado por Ale Xavier e Luana Maluf, seus vídeos mostram mulheres falando sobre e jogando futebol, além da habitual “resenha” com os convidados.
O canal Tá Bela, das apresentadoras Isa Valiero e Paulinha Vilhena, usa o trocadilho para brincar com seu objetivo real: trazer mais futebol pela ótica das mulheres. Esse também é o objetivo do ~dibradoras, que cobre o universo feminino no futebol e em outros esportes. O canal é apresentado por Angélica Souza, Renata Mendonça e Roberta “Nina” Cardoso, e foi criado em 2015 para dar “dibrar” adversidades e dar protagonismo às mulheres no esporte.
Vale frisar que investir no futebol feminino é estrategicamente lucrativo. A última Copa do Mundo feminina da FIFA, que aconteceu em 2019 na França, gerou uma audiência recorde de 993 milhões de telespectadores e outros 482 milhões que assistiram ao evento por plataformas digitais.8
Vibe 4: Artilheiros da vida real
O conteúdo que humaniza e nos aproxima dos grandes ídolos
Os torcedores amam seus ídolos e adoram saber sobre suas vidas. E quando essas estrelas descem até a Terra e revelam um lado mais humano, o sucesso é certo. Até porque os jogadores de futebol têm uma sensibilidade aguçada para detectar e desencadear tendências.
O carismático ponta-esquerda do Real Madrid Vini Jr é um exemplo disso. Durante a pandemia, ele criou um canal que já conta com mais de 1,7 milhão de inscritos. O conteúdo divertido conquistou a audiência logo de cara: o jogador responde perguntas de seguidores, faz desafios com amigos, sorteios e reacts de partidas que jogou, além de mostrar um pouco da sua vida pessoal para os fãs mais curiosos.
O YouTube possibilita essa experiência de intimidade e identificação dos fãs com seus grandes ídolos, como o ex-jogador Zico, ícone do Flamengo e da seleção. Em seu canal, que tem quase 1,4 milhão de inscritos, ele mostra curiosidades sobre a carreira, revisita lances históricos e faz entrevistas com outros personagens do esporte.
Mas o contrário também ocorre, e os apaixonados por futebol podem viver experiências únicas na plataforma. Isso aconteceu com o criador Fred, do Desimpedidos, que teve a oportunidade de jogar pelo time de futsal Magnus e gravou uma série com esses conteúdos. Esse intercâmbio alimenta a curiosidade e o engajamento da audiência que se posiciona entre a internet e as arquibancadas.
Para além da partida
O futebol não se resume a uma única plataforma, tampouco é vertical: no YouTube, ele reflete a democracia das ruas, dos campos e dos torcedores. As vibes mostram o processo de transformação na comunicação entre marcas, canais e pessoas e comprovam que, na plataforma, os fãs do esporte mais consumido no mundo são acolhidos para falar e ouvir sobre o que mais lhes interessa.
O YouTube Vibes é um relatório trimestral que analisa temas relacionados aos vídeos online e à cultura em torno desse universo. Nesta edição, trazemos uma investigação qualitativa e quantitativa do time do YouTube Brasil em parceria com a float. Foram feitas mil entrevistas quantitativas através de painel online (Offerwise) com brasileiros de todo o país e um grupo focal composto por moradores de São Paulo, Rio de Janeiro, Belém, Brasília, Salvador e Porto Alegre.